Eu sou uma pessoa que gosta de fotografias. Gosto de fotografar e registrar os momentos especiais que a vida nos proporciona para, mais tarde,
poder visitá-los e novamente acender as lembranças. Possuo vários álbuns em
minha casa, desde aqueles mais antigos, com fotos impressas, batidas com
máquinas Instamatic, Love e Zenit X12, até os mais novos, armazenados em HDs, produzidas com essas câmeras digitais.
Embora tenha registrado diversos momentos da minha vida e da vida
das pessoas que estão mais perto de mim, tenho a convicção de que foram muitos
os momentos que passaram sem registro – realmente, temos uma propensão para
registramos apenas os momentos agradáveis –, eventualmente registramos os
momentos ruins. Revendo as fotos, percebo que a vida não é feita somente dos
momentos bons, conforme retratam os álbuns, mas de todos os momentos, inclusive
aqueles que os álbuns não foram convidados a guardar.
Ao falar sobre o local ideal para a edificação da casa de um
cristão, Jesus nos ensinou sobre a variedade de circunstâncias que poderão
sobrevir à vida dos homens:
Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica,
assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; e
desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa,
e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. E aquele que ouve estas
minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que
edificou a sua casa sobre a areia; e desceu a chuva, e correram rios, e
assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda. (Mateus 7:24-27)
Extraio do texto que não importa se você é um homem prudente ou
insensato, se você edificou a sua casa sobre a rocha ou se a edificou sobre a
areia: você certamente sofrerá os ataques da chuva, da força dos rios e do
sopro do vento. Soa estranho quando dizemos isso, mas é a verdade é que, tanto
para o primeiro personagem da história contada por Jesus, como para o segundo,
as circunstâncias adversas chegam igualmente. A regra é que Jesus não afastou
de nós os problemas, as lutas, ou as dificuldades da vida; nós não gozamos de
privilégios, por sermos cristãos, para que passemos de largo pelas
circunstâncias adversas da vida. Quando Jesus orou a Deus em favor dos seus
discípulos, ele não pediu para que Deus os tirasse do mundo, ou para que eles
não sofressem como as demais pessoas. Sua oração foi para que o Pai os livrasse
do mal (Jo 17:15).
Quando somos cercados pelas dificuldades, fatalmente retorna à
mente as seguintes perguntas: “Qual a razão da crise na vida do crente?” e “Por
que Jesus nos permite viver momentos que não merecem registro em álbuns de
fotografias?”.
Lembro-me dos meus tempos na Escola Classe 11 de Ceilândia Norte –
ainda guardo com carinho a foto tirada em 1979, na primeira série do primeiro
grau, com livros de capa dura sobre a carteira, um globo terrestre a lado e uma
bandeira do Brasil cobrindo a parede ao fundo –. É comum até hoje nas escolas
brasileiras o sistema de avaliação por provas. Fazíamos nossas avaliações a
cada bimestre e, ao final do ano, apurava-se a média. De acordo com a média
alcançada, o aluno estava apto, ou inapto, a cursar a série seguinte e avançar
em seu curso.
Percebo que na vida espiritual o quadro não é diferente, a Palavra
revela que o Senhor também prova o justo (Sl 11:5). Pedro é bem preciso ao
dizer que não devemos estranhar a prova “que vem sobre vós para vos tentar, como
se coisa estranha vos acontecesse” (1Pe 4:12). Entendo que, assim como na
escola secular, também passamos por provas em nossas vidas espirituais. Essas
provas são permitidas por Deus, que, por meio delas nos avalia e aperfeiçoa.
Quando triunfarmos sobre elas, ele nos declara aprovados e nos habilita a
avançarmos para o próximo estágio da vida cristã. É bem verdade que, às vezes,
as circunstâncias são muito difíceis, principalmente se vêm envolvidas em
situações de perdas irremediáveis.
Recentemente refletia sobre a eternidade de Deus: antes de o mundo
existir, Deus já existia. Foi ele quem criou o mundo, o universo. Então, em
minha mente veio outra pergunta: “E antes de criar o universo, quando foi que
Deus nasceu ou foi criado?” Como resposta, aprendi que Deus sempre existiu, ele
nem nasceu nem foi criado, antes de tudo ele era, hoje ele é e do mesmo modo
ele sempre será. Essa breve reflexão me revelou o quanto a minha mente é
limitada, pois sequer alcançou entender algo que parece ser simples: um ser que
existe sem ter nascido ou sido criado, um ser que sempre existiu.
Assim, quando me deparo com as situações difíceis que sobrevém às
vidas das pessoas que crêem no amor de Deus, quando ouço as perguntas do tipo:
“Por que Fulano está passando por determinada circunstância?”, ou “Por que Deus
permitiu que isso ou aquilo acontecesse?” não me constranjo em dizer: “Eu não
sei.” Vejo que seria muita pretensão da minha parte me imaginar sabendo a razão
de ser de todas as coisas. Contudo, o que posso dizer é que Deus está no
controle de todas as coisas; que, embora eu, ou as pessoas próximas de mim,
sofra os ataques da chuva, da força dos rios e do sopro do vento, Deus está no
comando; que nós temos condições de passar por mais essa prova e ser declarado
aprovado; que a tentação não será suficiente a nos derrubar; que quando
confiamos no Senhor e cremos em sua palavra – e nesse ponto é feita a escolha
do local onde você irá construir a sua casa, se sobre a rocha ou se sobre a
areia – nossas casas não serão abaladas; que, ao final, passaremos de uma etapa
da vida para outra, que está à frente; e que esta etapa da vida, não
necessariamente, será melhor ou mais fácil do que aquela na qual fomos
aprovados ontem.
Nem sempre saberemos o porquê de as coisas más acontecerem, a
razão de ser de todas as coisas, muitas vezes a situação foge ao nosso
controle. Se isso acontecer, não tenha vergonha de não saber todos os porquês,
afinal, não sabemos tudo. Porém, prosseguindo na construção de nossas casas
sobre a Rocha, uma coisa saberemos, e isso certamente fará grande diferença em
nossas vidas: Nós não seremos abalados! Nós permaneceremos firmes! (Jó 19:25).
Outra certeza que encontramos na Palavra de Deus é que um dia, o
Senhor Jesus se revelará, lá nos céus, e todos os olhos o verão. Nesse dia, o
ouro e a prata perderão o seu valor, o ímpio será julgado e o justo receberá o
alívio esperado (2 Ts 1:6-10). Por enquanto, se tudo de mal acontecer, se os
fundamentos forem destruídos, devemos permanecer crendo que o Senhor está
assentado em seu trono (Sl 11:2-4), e que as circunstâncias que nos envolvem
diariamente fazem parte da realização um plano maior, escrito pelo próprio
Deus, do qual também fazem parte as provas periódicas.
Aguardemos a próxima manhã (Sl 30:5b).
Um grande abraço,
Guaraci Vieira