terça-feira, 24 de março de 2015

O Pediatra




Uma coisa que chama a atenção dos adultos é a sinceridade das crianças. O “sim” delas, acompanhado de um sorriso quando gostam de algo, quer dizer sim e o “não”, com todas as letras, quando não gostam, quer dizer não. O adulto, por sua vez, para falar um “sim”, ou um “não”, tem que examinar antes todas as variáveis presentes no contexto.

Dois homens bem diferentes viviam em Jericó quando Jesus foi visitá-la: um deles era cego e mendigava à beira do caminho, na entrada da cidade (Lc 18:35-43), o outro era rico e trabalhava na coletoria de impostos (Lc 19:1-10). Ao perceberem a aproximação de Jesus, os dois não se sentiram acanhados em expor as suas realidades diante daquele que é o Médico dos médicos. O primeiro gritou pedindo-lhe misericórdia, o segundo, que era de pequena estatura, subiu numa árvore, pois grande era o seu desejo de conhecê-lo.

Certa vez Jesus disse: “Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos” (Lc 5:31). Nesse contexto, não há homem são, pois o pecado causa feridas em todos. Todos nós, independentemente da condição social, na verdade, precisamos conhecer a Jesus. Bartimeu, o cego, não deixou que a limitação que enfrentava o impedisse de alcançar a Jesus. Jesus o acolheu e o sarou. Zaqueu, o homem rico, expôs publicamente sua necessidade, e naquele mesmo dia foi tratado.

Foi Deus quem nos fez, por isso Ele conhece todas as nossas fraquezas e limitações. Acredito que Jesus prefere homens sinceros a homens perfeitos, ou sãos. Quando percebemos que não estamos tão saudáveis como imaginamos e nos dirigimos a Jesus, apresentando em sinceridade a nossa situação, agimos como crianças. Então, Ele vem ao nosso encontro, entra em nossa casa, nos toma em seus braços e nos cura.

“Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas.” (Lc 18:16)

O que você acha de irmos ao médico hoje?

Guaraci Vieira
  
Em 23 de março de 2015.


quarta-feira, 11 de março de 2015

Como um leão


(1Pe 5:8)

O leão sai a rugir pela savana... todos os animais respeitam e saúdam Sua Majestade...

Satanás assemelha-se a um leão – sorrateiramente acompanha os rebanhos; seleciona um para vítima em meio a uma infinidade; envida esforços para afastá-la da companhia dos demais; e, quando essa se vê só, ataca-a fatalmente.

Quantas vezes nos encontramos envolvidos nos nossos afazeres... Como corças que pastam, não atentamos para o que se passa ao nosso derredor... – não percebemos que aquele desentendimento, aquela insatisfação, aquela incompreensão não passam de “rugidos de leão”, sutis ciladas, que visam nos entristecer e afastar do meio do rebanho.

Por maior que seja a investida desse inimigo, não deixe que o seu rugir te intimide, mas que funcione como um sinal de alerta – lembre-se: o leão não pode com uma manada.

É em meio ao rebanho que somos alimentados e encontramos proteção; afinal, não é pela nossa força que o iremos derrotar. Contudo, aquele que rejeita o “empurra-empurra”, natural quando se está em meio a uma multidão, antes, confia nas suas próprias forças, revela-se fraco e, caminhando pelos aceiros, torna-se preza fácil.

Demonstre sua força mantendo-se em sua posição. Não retroceda. A promessa do Senhor se cumprirá.

Que Deus nos sustente, por sua misericórdia.

Guaraci Vieira

sexta-feira, 6 de março de 2015

Aguardemos a próxima manhã


Eu sou uma pessoa que gosta de fotografias. Gosto de fotografar e registrar os momentos especiais que a vida nos proporciona para, mais tarde, poder visitá-los e novamente acender as lembranças. Possuo vários álbuns em minha casa, desde aqueles mais antigos, com fotos impressas, batidas com máquinas Instamatic, Love e Zenit X12, até os mais novos, armazenados em HDs, produzidas com essas câmeras digitais.

Embora tenha registrado diversos momentos da minha vida e da vida das pessoas que estão mais perto de mim, tenho a convicção de que foram muitos os momentos que passaram sem registro – realmente, temos uma propensão para registramos apenas os momentos agradáveis –, eventualmente registramos os momentos ruins. Revendo as fotos, percebo que a vida não é feita somente dos momentos bons, conforme retratam os álbuns, mas de todos os momentos, inclusive aqueles que os álbuns não foram convidados a guardar.

Ao falar sobre o local ideal para a edificação da casa de um cristão, Jesus nos ensinou sobre a variedade de circunstâncias que poderão sobrevir à vida dos homens:

Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; e desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; e desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda. (Mateus 7:24-27)

Extraio do texto que não importa se você é um homem prudente ou insensato, se você edificou a sua casa sobre a rocha ou se a edificou sobre a areia: você certamente sofrerá os ataques da chuva, da força dos rios e do sopro do vento. Soa estranho quando dizemos isso, mas é a verdade é que, tanto para o primeiro personagem da história contada por Jesus, como para o segundo, as circunstâncias adversas chegam igualmente. A regra é que Jesus não afastou de nós os problemas, as lutas, ou as dificuldades da vida; nós não gozamos de privilégios, por sermos cristãos, para que passemos de largo pelas circunstâncias adversas da vida. Quando Jesus orou a Deus em favor dos seus discípulos, ele não pediu para que Deus os tirasse do mundo, ou para que eles não sofressem como as demais pessoas. Sua oração foi para que o Pai os livrasse do mal (Jo 17:15).

Quando somos cercados pelas dificuldades, fatalmente retorna à mente as seguintes perguntas: “Qual a razão da crise na vida do crente?” e “Por que Jesus nos permite viver momentos que não merecem registro em álbuns de fotografias?”.

Lembro-me dos meus tempos na Escola Classe 11 de Ceilândia Norte – ainda guardo com carinho a foto tirada em 1979, na primeira série do primeiro grau, com livros de capa dura sobre a carteira, um globo terrestre a lado e uma bandeira do Brasil cobrindo a parede ao fundo –. É comum até hoje nas escolas brasileiras o sistema de avaliação por provas. Fazíamos nossas avaliações a cada bimestre e, ao final do ano, apurava-se a média. De acordo com a média alcançada, o aluno estava apto, ou inapto, a cursar a série seguinte e avançar em seu curso.

Percebo que na vida espiritual o quadro não é diferente, a Palavra revela que o Senhor também prova o justo (Sl 11:5). Pedro é bem preciso ao dizer que não devemos estranhar a prova “que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse” (1Pe 4:12). Entendo que, assim como na escola secular, também passamos por provas em nossas vidas espirituais. Essas provas são permitidas por Deus, que, por meio delas nos avalia e aperfeiçoa. Quando triunfarmos sobre elas, ele nos declara aprovados e nos habilita a avançarmos para o próximo estágio da vida cristã. É bem verdade que, às vezes, as circunstâncias são muito difíceis, principalmente se vêm envolvidas em situações de perdas irremediáveis.

Recentemente refletia sobre a eternidade de Deus: antes de o mundo existir, Deus já existia. Foi ele quem criou o mundo, o universo. Então, em minha mente veio outra pergunta: “E antes de criar o universo, quando foi que Deus nasceu ou foi criado?” Como resposta, aprendi que Deus sempre existiu, ele nem nasceu nem foi criado, antes de tudo ele era, hoje ele é e do mesmo modo ele sempre será. Essa breve reflexão me revelou o quanto a minha mente é limitada, pois sequer alcançou entender algo que parece ser simples: um ser que existe sem ter nascido ou sido criado, um ser que sempre existiu.

Assim, quando me deparo com as situações difíceis que sobrevém às vidas das pessoas que crêem no amor de Deus, quando ouço as perguntas do tipo: “Por que Fulano está passando por determinada circunstância?”, ou “Por que Deus permitiu que isso ou aquilo acontecesse?” não me constranjo em dizer: “Eu não sei.” Vejo que seria muita pretensão da minha parte me imaginar sabendo a razão de ser de todas as coisas. Contudo, o que posso dizer é que Deus está no controle de todas as coisas; que, embora eu, ou as pessoas próximas de mim, sofra os ataques da chuva, da força dos rios e do sopro do vento, Deus está no comando; que nós temos condições de passar por mais essa prova e ser declarado aprovado; que a tentação não será suficiente a nos derrubar; que quando confiamos no Senhor e cremos em sua palavra – e nesse ponto é feita a escolha do local onde você irá construir a sua casa, se sobre a rocha ou se sobre a areia – nossas casas não serão abaladas; que, ao final, passaremos de uma etapa da vida para outra, que está à frente; e que esta etapa da vida, não necessariamente, será melhor ou mais fácil do que aquela na qual fomos aprovados ontem.

Nem sempre saberemos o porquê de as coisas más acontecerem, a razão de ser de todas as coisas, muitas vezes a situação foge ao nosso controle. Se isso acontecer, não tenha vergonha de não saber todos os porquês, afinal, não sabemos tudo. Porém, prosseguindo na construção de nossas casas sobre a Rocha, uma coisa saberemos, e isso certamente fará grande diferença em nossas vidas: Nós não seremos abalados! Nós permaneceremos firmes! (Jó 19:25).

Outra certeza que encontramos na Palavra de Deus é que um dia, o Senhor Jesus se revelará, lá nos céus, e todos os olhos o verão. Nesse dia, o ouro e a prata perderão o seu valor, o ímpio será julgado e o justo receberá o alívio esperado (2 Ts 1:6-10). Por enquanto, se tudo de mal acontecer, se os fundamentos forem destruídos, devemos permanecer crendo que o Senhor está assentado em seu trono (Sl 11:2-4), e que as circunstâncias que nos envolvem diariamente fazem parte da realização um plano maior, escrito pelo próprio Deus, do qual também fazem parte as provas periódicas.

Aguardemos a próxima manhã (Sl 30:5b).

Um grande abraço,

Guaraci Vieira